Hoje em dia, em Hollywood, o chique radical está de volta à moda. Surgiram uma série de thrillers sensuais que dramatizam a história da política radical ou apresentam hipóteses provocativas sobre o futuro do ativismo. Na minha opinião, nenhum se compara ao poder incendiário de “Dry Ground Burning”, um filme feminista de gângster do Brasil que cospe petróleo na cara do establishment político daquele país.
Dirigido por Joana Pimenta e Adirley Queirós, “Terra Seca Queimando” é um filme sobre a insurreição ambientada na região central brasileira de Sol Nascente. Chitara (Joana Darc Furtado) é a líder de uma tripulação feminina que rouba petróleo de oleodutos subterrâneos e, como chefão, faz acordos com vendedores de gasolina que vendem o produto com desconto. A meia-irmã de Chitara, Léa (Léa Alves da Silva), uma encantadora andrógina com cabelos pretos, se junta ao grupo após oito anos de prisão, e sua chegada inspira diversas conversas nostálgicas que temperam a ação com vibrações de filme de hangout. . Os dois irmãos discutem com indiferença sobre o pai playboy e o filho de 12 anos de Léa, concebido com um ex-presidiário assassinado.
Enquanto isso, a compatriota Andreia (Andreia Vieira) lança uma campanha contra o candidato pró-policial que concorre ao cargo. O dela é o Partido do Povo Prisional, que representa aqueles com antecedentes criminais, a classe trabalhadora e os povos indígenas e negros – em outras palavras, aqueles que tiveram os piores resultados sob as políticas do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, que estava no poder quando o o filme estava em produção.
Como a maioria das pessoas não conhece os filmes de Pimenta e Queirós, sou obrigado a traçar uma conexão entre “Dry Ground Burning” e “Mad Max: Fury Road”, dois faroestes distópicos piromaníacos nos quais mulheres sem lei não são apenas suas próprios salvadores, mas também de todos os outros.
Mas se “Fury Road” é um passeio perpétuo, “Dry Ground” irrompe entre pausas para fumar, alternando entre momentos de quietude acidentada e cenas estimulantes que se distinguem pelo design de som industrial revigorante e pela exultação coletiva dos corpos – como aquela com uma carreata carregando os membros turbulentos de um partido político anárquico gritando um jingle de campanha cheio de palavrões. Paisagens noturnas iluminadas por sódio, repletas de mulheres de aço e armadas, lembram os brilhantes dramas policiais de Michael Mann (“Heat”).
No entanto, “Dry Ground Burning” não está divorciado da realidade. Embora Pimenta e Queirós espalhem toques de ficção científica ao longo do filme, a sua abordagem é impregnada de métodos documentais renegados e influenciada pelas contribuições de habitantes locais reais. O elenco é composto por atores não profissionais da região que interpretam versões semificcionalizadas de si mesmos – Silva, por exemplo, entrou na produção quando foi libertada da prisão. A fim de limpar as ruas para a cena da carreata, o Partido da Prisão Popular foi oficialmente registrado como uma campanha política.
Pimenta e Queirós inventam um mundo em que as mulheres brasileiras, que estão na base do totem social, resolvem o problema com as próprias mãos. Eles fazem isso sem um pingo de medo ou autopiedade – e ainda por cima com um estilo matador. E não são apenas os artistas e os atores famosos que realizam essas possibilidades, mas as próprias pessoas mais capacitadas por se imaginarem de outra forma.